quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O Conceito de Político Profissional

Nesta minha primeira contribuição não sabia bem, dado às divergências teóricas e à amizade que me une ao fundador deste topos, o que deveria escrever. Pensei nas quezílias que tive com ele na faculdade e veio-me à memória uma noção que surgia constantemente nos nossos debates – A noção de Político Profissional –, pois, como um bom aristotélico que é, ele defendia com convicção o princípio antropológico de que “o homem é por natureza um animal político”. Contudo ficávamos desapontados com a fraca consciência política que, teimosamente, orbitava no nosso meio. Quando confrontávamos as pessoas com essa consciência elas relegavam-na imediatamente para os políticos – “Eu não sei nada de política”; “Os políticos é que percebem dessas matérias, eles é que tem a obrigação de resolver”. Presságio do que iria acontecer.
Actualmente em Portugal essa noção transformou-se na clareira da competência política. Os políticos portugueses refugiam-se na credibilidade que a palavra profissional aufere, pois o profissional é aquele que professa uma profissão, ou seja, o profissional é aquele que se confessa publicamente, que se vincula por um acto solene a uma condição social, a um estado, a um modo de vida, a um emprego. Mas o político profissional continua a fazer politica e a politica, tomada como uma palavra, deriva do grego polis que, substancialmente, significa cidade. Recorro-me aqui do alfobre “substancialmente” para salientar o compromisso ontológico que une o político à cidade, pois já na palavra política se encerra o acto solene da profissão. Então porquê o pleonasmo? Qual é a necessidade de, quem já faz politica, vincar a relação com o seu modo de ser político?
Segundo Aristóteles não se poderia conceber o corpo sem a mão, como não se poderia conceber a polis sem o indivíduo, mas na sociedade portuguesa temos a necessidade de afirmar o corpo se queremos ter uma mão. Para um português ver creditada a sua dimensão política é necessário imiscuir-se nas organizações partidárias e respeitar as suas orientações. Deixamos perverter a nossa condição política; os movimentos cívicos deixaram de ter uma importância relevante, os sindicatos não são levados a sério e o associativismo perdeu-se. A política é vista, não como uma participação activa e significativa de todos os cidadãos, mas como uma actividade profissional, cujo vínculo depende da confirmação constante da entidade patronal (leia-se partidos políticos). É paradoxal e até um pouco esquizofrénico, mas na sociedade portuguesa parece que o homem pode abdicar da sua condição política e social.

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